domingo, 30 de maio de 2021

Nove filmes sobre a questão indígena

Sempre me incomodou muito o fato de eu não saber quase nada sobre a questão indígena no Brasil. Sei que fui um péssimo aluno na graduação em História mas, nos momentos em que consegui ser razoável, não lembro de termos estudado em profundidade esse assunto. 

Quando comecei dar aula em 2007 a questão indígena aparecia muito timidamente no currículo.  

Em 2008, 2009 e 2010 participei de um curso de formação em Relações de gênero, combate à homofobia e ao racismo organizado por nosso sindicato e, mais uma vez, não aparecia a discussão sobre indígenas. A partir do tal curso, realizamos um cine debate onde, uma vez por mês exibíamos um filme que fomentasse o debate sobre combate ao machismo, homofobia e racismo. Queria por algo sobre povos indígenas e, nada! Era um ignorante em filmes com tal conteúdo e também teríamos dificuldade em algum especialista para debater conosco após a exibição. 

Com o aumento das opções de filmes no Youtube fui descobrindo títulos. O primeiro que vi foi o documentário  Yndio do Brasil, de Sylvio Back e depois a animação Pajerama, de Leonardo Cadaval. A partir disso fui buscando estudar mais sobre os nossos povos originários a partir da necessidade da sala de aula. Tem muita coisa pra ver ainda. Mais agora, que descobri o Cine Kurumin – Festival Internacional de Cinema Indígena onde poderei conhecer produções dos próprios indígenas. 

Com o objetivo de apenas dar sugestões de filmes à pessoas interessadas, segue abaixo uma lista. Organizei de acordo com o ano de produção do filme do mais antigo para o mais novo. 

Os Xetá da Serra do Dourado, de José Loureiro Fernandes e Vladimir Kozák. Brasil, 1959. 46 minutos. 

Com narração de Arnaldo Jabor, esse clássico do cinema paranaense retrata o dia a dia dos Xetá durante o processo de invasão de suas terras pelas frentes colonizadoras no noroeste do Paraná durante a década de 1950.


Yndio do Brasil, de Sylvio Back. Brasil, 1995. 66 minutos. 


"Yndio do Brasil" é uma espécie de autocrítica do cinema com relação à imagem do índio que ele ajudou a construir nos últimos 80 anos. É uma colagem de trechos de uma centena de filmes nacionais e estrangeiros sobre índios. São imagens de filmes de ficção -como "A Lenda de Ubirajara", "Casei-me com um Xavante", "Como Era Gostoso Meu Francês"-, documentários etnográficos, cinejornais etc.

Para o diretor do documentário, Sylvio Back, o cinema tem reforçado o olhar distorcido que a sociedade branca tem do índio. "Esse olhar tem várias vertentes: uma é a do cinema americano, em que os índios são maus, demonizados; outra é a da Igreja, que mostra de um lado o índio demonizado, e de outro o índio idealizado, ingênuo, idílico", diz o cineasta. (fragmento de crítica publicada na Folha Ilustrada)



Serras da desordem, de Andrea Tonacci. Brasil, 2006. 135 minutos.

Este filme está na lista dos “100 melhores filmes brasileiros” organizada pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema e conta a trajetória de Carapirú, índio nômade que escapa de um ataque surpresa de fazendeiros e durante dez anos, anda sozinho pelas serras do Brasil central, até ser capturado em novembro de 1988, distante dois mil quilômetros de seu ponto de partida. Levado a Brasília pelo sertanista Sydney Possuelo, ele vira manchete nacional e centro de uma polêmica entre antropólogos e linguistas quanto a sua origem e identidade.



Pajerama, de Leonardo Cadaval. Brasil, 2008, 9 minutos. 

Nessa animação criada por Leonardo Cadaval um índio é pego numa torrente de experiências estranhas, revelando mistérios de tempo e espaço. 



Terra Vermelha, de Marco Bechis. Itália/Brasil, 2008, 108 minutos.



Uma onda de suicídio entre jovens do povo Guarani-Kaiowá desperta sua comunidade para a necessidade de resgatar suas origens. Os índios creem que o espírito causador do suicídio pode ser controlado com a reconquista de seus espaços naturais e espirituais.

Ilhados pelas relações capitalistas, um dos motivos do desaparecimento gradual da cultura desse povo é a disputa por terras com os fazendeiros da região. Para os Kaiowás, essas terras são seu patrimônio espiritual. A sua religião tem forte ligação com a terra, que é origem e fonte da vida. Assim, eles não se consideram donos, mas parte da terra, e acreditam que a separação que sofreram desse espaço é a causa dos males que os rodeiam.



Xetá, de Fernando Severo. Brasil, 2011. 21 min.


Durante o processo de colonização do noroeste do Paraná, a partir dos anos 1940, o povo Xetá, que pouco contato tivera com a sociedade ocidental, foi praticamente dizimado. Além da quase extinção de sua cultura, a investida colonizadora provocou um desastre ecológico irreversível na região. Xetá trata de tudo isso mas também destaca a recomposição e reorganização étnica de um povo.


Xingu, de Cao Hamburger. Brasil, 2012. 116 minutos. 


Xingu conta a história dos irmãos Villas Bôas que entram em contato com aldeias indígenas, ajudando a defender a sua cultura e criando o Parque Nacional do Xingu.

Índio Cidadão? Rodrigo Arajeju. Brasil, 2014. 52 minutos.


Este é um documentário sobre a luta das nações indígenas brasileiras pela conquista e manutenção dos direitos constitucionais conquistados na Constituinte de 1987/88. O filme resgata dois momentos-chave nesse processo: a campanha popular dos povos indígenas na Constituinte e o período de manifestações em Brasília contra os ataques legislativos do Congresso Nacional, com a ocupação da Câmara dos Deputados no Abril Indígena 2013 e a Mobilização Nacional Indígena em outubro do mesmo ano. 

Ancorado em depoimentos e falas públicas de importantes lideranças indígenas, como o cacique Raoni Metuktire, Ailton Krenak, Sonia Guajajara, Davi Yanomami, Alvaro Tukano, entre outros, o filme traz episódios históricos e contemporâneos da luta indígena no debate político do Congresso Nacional, contando com elementos inéditos, fruto de intensa pesquisa de acervos públicos e privados. 

Conseguimos fazer a projeção desse filme em General Carneiro e União da Vitória em consonância com o lançamento nacional do mesmo, contando inclusive com a presença da comunidade Xokleng de Rio dos Pardos quando o filme foi lançado na Unespar. 

Índios no Poder, de Rodrigo Arajeju. Brasil, 2015. 21 minutos.


Mario Juruna, primeiro índio parlamentar na história do país, não consegue se reeleger para a Constituinte (1987/88). Sem representante no Congresso Nacional desde a redemocratização, as nações indígenas sofrem ataques aos seus direitos constitucionais pela bancada ruralista. O cacique Ládio Veron, filho de liderança Kaiowa e Guarani executado na luta pela terra, lança candidatura a deputado federal nas eleições 2014 sob ameaças do agronegócio.



Bora assistir que tá tudo grátis no Youtube!