sexta-feira, 1 de maio de 2020

Carta de reivindicações dos estudantes do Ensino Médio

No ano de 2014, ainda acreditava nas instituições e, após levantarmos com estudantes do Ensino Médio os problemas enfrentados pela comunidade, resolvemos escrever com uma carta de reivindicações às autoridades. A ideia era enviar o documento pelos Correios. No entanto, como teríamos de bancar os custos, acabamos enviando por e-mail. Desde deputados(as) estaduais e federais paranaenses até Presidência da República e seus Ministérios. 

Somente três pessoas se manifestaram, os deputados estaduais do Partido dos Trabalhadores, Tadeu Veneri e Professor Lemos e a deputada federal Rosane Ferreira, do Partido Verde que buscaram encaminhar o que estava ao alcance de suas atribuições.   

Por mais que os estudantes não tenham sido contemplados em seus pedidos, a escrita e envio da carta serviu como uma atividade pedagógica interessante, até para sentir o descaso das “autoridades” que nem responderam o documento. 

Abaixo a carta, na íntegra.

Iratim - General Carneiro (PR), 10 de março de 2014

Caro/a Representante!

Nós, estudantes da 1ª série A do Ensino Médio do Colégio Estadual do Campo São Francisco de Assis e moradores das comunidades do Iratim, Campina do Tigre, Catequese, Colina Verde, Campo do Meio, Recanto Bonito, Horizonte, São Bento, Pouso Bonito e Ouro Verde, após debatermos em uma aula de História a relação campo-cidade e as perspectivas de projetos para o nosso futuro decidimos escrever este documento para nossos representantes eleitos.

Não temos perspectiva de um bom futuro vivendo aqui, pois nos sentimos esquecidos pelo Poder Público. Falta acesso à saúde (médico, dentista, agente de saúde, remédios nos postos, etc.). Só há transporte público daqui até o centro da cidade duas vezes por semanas e as estradas e ônibus são muito mal cuidados. Precisamos de acesso à cidade todos os dias, pois não há mercados e lojas aqui. Em dias de chuva, as estradas são muito escorregadias e torna-se muito perigoso trafegar por elas. Falta qualquer política pública para o lazer e cultura da população. Não funciona celular nem internet e sabemos que temos direito a tudo isso.

Não recebemos assessoria técnica para melhorarmos nossa produção e nem temos novas perspectivas de geração de renda. Precisamos cursos técnicos para estudarmos aqui em nossas comunidades e aprendermos coisas que venham nos auxiliar em nosso trabalho.

A nossa escola não tem biblioteca, nem acesso à internet para os alunos, muito menos laboratório de ciências, de informática e refeitório. A quadra não tem paredes e em dias de chuva ou frio é impossível ter aulas ali. Temos banheiros muito precários: para as meninas um vaso sanitário apenas. Para os meninos, dois vasos em um banheiro sem porta.

A escola foi inaugurada em 5 de dezembro de 2008, no entanto, construí-se só parte dela (4 salas de aula e a quadra). Hoje, 5 anos após a inauguração as obras não progrediram. Diferente disso, janelas basculantes não abrem, portas não fecham e estão sem fechaduras. Uma sala foi dividida com compensados ao meio para abrigar duas turmas ao mesmo tempo. Há corriqueiros problemas na instalação elétrica. Não há muros na escola, só um portão de ferro fechado em meio a nenhuma segurança.

Estamos na 1ª série do Ensino Médio e gostaríamos de gozar do direito de ter uma escola de verdade, parecida com outras do Brasil, do Paraná ou do nosso próprio município.

Gostaríamos da atenção e esforço de Vossa Excelência, pois estamos cansados de esperar pelo respeito por nós e por nossos sonhos.

Atenciosamente.


Estudantes da 1ª série A do Ensino Médio do Colégio Estadual do Campo São Francisco de Assis e professor Lúcio Ambrosio Hupalo

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