No
ano de 2014, ainda acreditava nas instituições e, após levantarmos
com estudantes do Ensino Médio os problemas enfrentados pela
comunidade, resolvemos escrever com uma carta de reivindicações às
autoridades. A ideia era enviar o documento pelos Correios. No
entanto, como teríamos de bancar os custos, acabamos enviando por
e-mail. Desde deputados(as) estaduais e federais paranaenses até
Presidência da República e seus Ministérios.
Somente
três pessoas se manifestaram, os deputados estaduais do Partido dos
Trabalhadores, Tadeu Veneri e Professor Lemos e a deputada federal
Rosane Ferreira, do Partido Verde que buscaram encaminhar o que
estava ao alcance de suas atribuições.
Por
mais que os estudantes não tenham sido contemplados em seus pedidos,
a escrita e envio da carta serviu como uma atividade pedagógica
interessante, até para sentir o descaso das “autoridades” que
nem responderam o documento.
Abaixo a carta, na íntegra.
Iratim
- General Carneiro (PR), 10 de março de 2014
Caro/a
Representante!
Nós,
estudantes da 1ª série A do Ensino Médio do Colégio Estadual do
Campo São Francisco de Assis e moradores das comunidades do Iratim,
Campina do Tigre, Catequese, Colina Verde, Campo do Meio, Recanto
Bonito, Horizonte, São Bento, Pouso Bonito e Ouro Verde, após
debatermos em uma aula de História a relação campo-cidade e as
perspectivas de projetos para o nosso futuro decidimos escrever este
documento para nossos representantes eleitos.
Não
temos perspectiva de um bom futuro vivendo aqui, pois nos sentimos
esquecidos pelo Poder Público. Falta acesso à saúde (médico,
dentista, agente de saúde, remédios nos postos, etc.). Só há
transporte público daqui até o centro da cidade duas vezes por
semanas e as estradas e ônibus são muito mal cuidados. Precisamos
de acesso à cidade todos os dias, pois não há mercados e lojas
aqui. Em dias de chuva, as estradas são muito escorregadias e
torna-se muito perigoso trafegar por elas. Falta qualquer política
pública para o lazer e cultura da população. Não funciona celular
nem internet e sabemos que temos direito a tudo isso.
Não
recebemos assessoria técnica para melhorarmos nossa produção e nem
temos novas perspectivas de geração de renda. Precisamos cursos
técnicos para estudarmos aqui em nossas comunidades e aprendermos
coisas que venham nos auxiliar em nosso trabalho.
A
nossa escola não tem biblioteca, nem acesso à internet para os
alunos, muito menos laboratório de ciências, de informática e
refeitório. A quadra não tem paredes e em dias de chuva ou frio é
impossível ter aulas ali. Temos banheiros muito precários: para as
meninas um vaso sanitário apenas. Para os meninos, dois vasos em um
banheiro sem porta.
A
escola foi inaugurada em 5 de dezembro de 2008, no entanto,
construí-se só parte dela (4 salas de aula e a quadra). Hoje, 5
anos após a inauguração as obras não progrediram. Diferente
disso, janelas basculantes não abrem, portas não fecham e estão
sem fechaduras. Uma sala foi dividida com compensados ao meio para
abrigar duas turmas ao mesmo tempo. Há corriqueiros problemas na
instalação elétrica. Não há muros na escola, só um portão de
ferro fechado em meio a nenhuma segurança.
Estamos
na 1ª série do Ensino Médio e gostaríamos de gozar do direito de
ter uma escola de verdade, parecida com outras do Brasil, do Paraná
ou do nosso próprio município.
Gostaríamos
da atenção e esforço de Vossa Excelência, pois estamos cansados
de esperar pelo respeito por nós e por nossos sonhos.
Atenciosamente.
Estudantes
da 1ª série A do Ensino Médio do Colégio Estadual do Campo São
Francisco de Assis e professor Lúcio Ambrosio Hupalo
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