1930 era ano de eleições e o presidente que estava em fim de mandato, Washington Luís, paulista, deveria indicar o candidato que seria o novo presidente, e pelo combinado, teria de ser um mineiro. Só que Washington Luís indicou Julio Prestes, paulista. Mineiros ficaram indignados e como protesto, apoiaram o candidato da oposição, Getúlio Vargas, gaúcho que tinha como vice o paraibano João Pessoa.
Julio Prestes venceu a eleição com 59,39 % dos votos e deveria assumir o cargo no final de 1930. Só que não assumiu!
João Pessoa era advogado e político. Na época, ocupava o cargo de presidente de seu estado. Para enfrentar seus adversários, se utilizava de práticas não muito simpáticas como a que fez com o jornalista João Dantas. A mando de João Pessoa, policiais invadiram o escritório de Dantas e dali levaram cartas à época tidas como eróticas trocadas entre Dantas e a professora e poetisa Anaíde Beiriz.
Tais cartas foram publicadas em jornais locais e trouxeram muitos danos à imagem dos envolvidos.
No dia 26 de julho de 1930 João Dantas estava na cidade de Recife, Pernambuco. Neste dia também havia sido anunciada a visita à cidade do presidente da Paraíba, Sabendo que seu desafeto tomava café na Confeitaria A Glória, João Dantas pra lá se dirigiu, se aproximou de Pessoa e deu-lhe três tiros à queima roupa.
O assassinato de João Pessoa - que não tinha ligação alguma com a política nacional - acabou sendo explorado pelo grupo de Getúlio Vargas, derrotado nas últimas eleições. Além das insinuações de que Washington Luis e Julio Prestes poderiam ter sido os mandantes do crime, ocorreu também grande exploração midiática do cerimonial fúnebre de João Pessoa. Seu corpo foi enviado ao Rio de Janeiro. No caminho a embarcação ia parando de porto em porto para "homenagens" e chamada à "revolução".
Aproveitando-se da repercussão do crime, no Brasil todo foi se articulando um movimento golpista. Assim, em 24 de outubro de 1930, ministros militares depuseram Washington Luís que foi preso e depois exilado na Europa. Uma junta militar assumiu o poder que depois foi entregue ao gaúcho Getúlio Vargas.
Esse golpe de Estado foi o início do processo chamado de Revolução de 1930. A partir daí, Getúlio ficou no poder até 1945. Ao mesmo tempo que trouxe mudanças positivas como os direitos trabalhistas, voto secreto, voto feminino e ensino primário público e obrigatório, Vargas foi também um governante demagogo e autoritário que cassou mandatos de políticos eleitos, censurou meios de comunicação e prendeu, torturou e matou opositores.
João Pessoa mártir!
Após o assassinato de João Pessoa e o golpe de 1930, várias cidades colocaram o nome do morto em ruas e praças. Na Paraíba, a capital Cidade da Parahyba teve seu nome mudado para João Pessoa.
Em Porto União e União da Vitória isso também aconteceu. Segundo Cleto da Silva, a Praça Moreira Garcez mudou para praça João Pessoa. Depois a avenida que vem do Bairro São Pedro até o Centro e que era antiga passagem de tropas teve também seu nome mudado.
A prova de alinhamento de nossas cidades com a "Revolução de 1930" mais extravagante, no entanto foi o monumento ao "Precursor e martyr do novo Brasil" inaugurado em 5 de outubro de 1931 e reconstruído em 5 de outubro de 1971. De acordo com Lili Matzenbacher em seu livro Monumentos e marcos históricos de Porto União e União da Vitória, páginas 35 e 36:
O monumento é todo em cimento, sendo a alegoria de remate do mesmo material colorido, imitando bronze. O Anjo da Vitória possuía um metro e sessenta e cinco centímetros de altura e levava em uma das mãos uma coroa e, na outra, um facho de luz vermelha, símbolo da Revolução e servindo, também, como farol para as embarcações do rio Iguaçu. O capitel possui 90 centímetros de altura. A coluna, quatro metros de altura por sessenta centímetros de diâmetro na parte inferior. A base tinha 50 centímetros de altura; a escadaria 54 centímetros, o pedestal 2 metros e 80 centímetros. A altura total do monumento, que possui iluminação elétrica, é de 10 metros e 39 centímetros. (...).
Ao pé do Porto, ancoradouro movimentado por vapores e grandes lanchas, que faziam transporte de produtos para outros centros do Paraná, foi projetada uma praça, a que ocuparia todo o sítio de acesso à ancoragem. Consentiu a Municipalidade, que em seu lugar fosse edificada a sede do Clube Náutico. Ambas não foram concretizadas. Neste local foi edificado um monumento à memória no inesquecível candidato da "Aliança Liberal" à Vice-Presidência da República no quadriênio 1930/1934.
Em 2016, com trabalho do artista plástico Roque Correia a prefeitura de Porto União fez a restauração do monumento, conforme as imagens no pé da página.
Referências:
Monumentos e marcos históricos de Porto União e União da Vitória, de Lili Matzenbacher. 1ª edição. Porto União: Uniporto, 1985;
Apontamentos históricos de União da Vitória 1768-1933, de Cleto da Silva. Curitiba: Imprensa Oficial, 2006;
Morte de João Pessoa: 90 anos do crime que marcou a Paraíba e mudou a política no Brasil, de André Resende, disponível em https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2020/07/26/morte-de-joao-pessoa-90-anos-do-crime-que-marcou-a-paraiba-e-mudou-a-politica-no-brasil.ghtml acesso em 17/04/2023;
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Velório de João Pessoa (Fonte: G1 PB) |
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Inauguração do monumento em 1931. (Fonte: Rádio Colmeia) |
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Monumento hoje (Fonte: Jornal Caiçara) |
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Monumento restaurado por Roque Correia. (Foto minha) |
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Monumento restaurado por Roque Correia. (Foto ruim mas é minha) |
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Monumento restaurado por Roque Correia. (Foto ruim mas é minha) |
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Foto minha |
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Plaqueta restaurada por Roque Correia. Foto minha |