O município de General Carneiro foi fundado no ano de 1961. No entanto, a partir de 1842 com o início da passagem de tropas de gado pelo caminho que viria a ser a Estrada de Palmas, foram se instalando os primeiros moradores nas terras antes ocupadas pelos indígenas Xokleng e Kaingang.
Corria
o ano de 1894 e já havia várias moradias nas margens da Estrada de Palmas, bem como algumas fazendas criadoras de gado. É neste ano que o pânico se instalou na região com os acontecimentos da Revolução Federalista.
Após
dias de peleia na cidade da Lapa, o exército Maragato comandado por
Gumercindo Saraiva batia em retirada para o Rio Grande do Sul. Por
onde passava ia semeando o pavor típico de uma guerra.
Conforme
Cleto da Silva, União da Vitória viu por três dias a passagem do contingente de guerrilheiros. Com moradores apavorados, o comércio paralisou
totalmente, os agricultores fugiram para as serras distantes e faltou abastecimento de produtos básicos no povoado.
Nas terras onde hoje é General Carneiro não foi diferente. Joaquim
Osório Ribas conta que a população da época passou por enormes
sacrifícios pois fazendas foram saqueadas e tiveram de fornecer
cavalos de montaria e gado para alimentação dos combatentes. Além
disso, por apresentarem resistência ou serem identificados como
inimigos, alguns camponeses, como Hildebrando Batista de Andrade, um
dos filhos dos fundadores da Fazenda São Sebastião do Iratim, foram
degolados.
Milhares
de soldados, tanto Maragatos como Pica-paus, passaram
pela Estrada de Palmas. Os carroções que transportavam armas
e munições chegaram até a balsa do rio Jangada, e dali em diante a
coluna seguiu pela antiga picada de Palmas que não dava passagem às
carroças. O material passou a ser transportado em cargueiros que era
o meio de transporte adequado à estrada.
No
Horizonte ocorreu confronto entre Maragatos e Pica-paus. Após esse
confronto, Gumercindo Saraiva desistiu de ocupar Palmas, rumou para
Santa Catarina e depois para o Rio Grande do Sul, onde foi
assassinado.
Para
compreender melhor…
O
que foi a Revolução Federalista?
Foi
uma guerra civil que ocorreu no sul do Brasil entre os anos de 1893 e
1895. Iniciou no Rio Grande do Sul e depois se estendeu até o
Paraná.
Maragatos
X Pica-paus
Eram
as duas forças da guerra. De um lado os Maragatos (ou Federalistas),
adversários
do presidente Floriano Peixoto, defendiam
o parlamentarismo e maior autonomia para os governos estaduais. O principal líder maragato era o general Gumercindo Saraiva. Do
outro estavam os Pica-paus ou Ximangos, apoiadores do presidente
Floriano e de seus métodos de governo.
Avanço
Maragato
Animados
por algumas vitórias e também pela articulação com marinheiros
que não concordavam com o Marechal Floriano Peixoto, os Maragatos
passaram pelo território catarinense e no Paraná conquistaram
Paranaguá, Tijucas do Sul, Lapa e Curitiba que havia sido abandonada
pelo governador Vicente Machado que fugira para Castro com sua
governança. O grupo comandado por Gumercindo Saraiva pretendia ir
até o Rio de janeiro para depor o presidente da República.
O
Cerco da Lapa
Essa
peleia na Lapa durou 26 dias. Ernesto Gomes Carneiro havia sido
mandado pelo presidente Floriano para conter o avanço inimigo. Com
apenas 639 homens, poucas armas e falta de alimentos, o coronel
Carneiro e sua tropa resistiram aos ataques dos 3 mil combatentes
maragatos.
Pelo
menos 500 pessoas morreram no Cerco da Lapa, entre elas Carneiro.
Apesar
da derrota, a batalha na
Lapa
foi fundamental para que
os soldados do governo se reorganizassem em São Paulo,
desencorajando os Maragatos que mais tarde bateram em retirada para o
Rio Grande do Sul.
Ernesto Gomes Carneiro foi promovido a general após a sua morte.
Maragatos em Curitiba
A chegada dos Maragatos à capital paranaense fez com que o governador Vicente Machado fugisse para Castro. Sem estrutura para enfrentar os invasores, alguns empresários curitibanos liderados pelo industrial ervateiro Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul, fizeram uma espécie de acordo com o general Gumercindo Saraiva. Seria paga certa quantia como empréstimo de guerra e os Maragatos poupariam a cidade de saques e outros tipos de violência.
Apesar deste acordo entre as partes resultar em menos estragos aos curitibanos, quando Gumercindo Saraiva e seus homens se retiraram de Curitiba, os Pica-paus prenderam o Barão do Serro Azul acusando-o de traidor. Após alguns dias preso, ele foi posto num trem a caminho do porto de Paranaguá. Dali seria mandado até o Rio de Janeiro, onde responderia inquérito. No entanto, no km 65 da Estrada de Ferro Curitiba - Paranaguá o Barão foi fuzilado.
Revolta
da Degola
Em
agosto de 1894, já no Rio Grande do Sul, Gumercindo Saraiva foi
alvejado por um atirador escondido na mata. Após sua morte, a
Revolução Federalista perdeu força. O
acordo de paz entre rebeldes e governo foi assinado perto de Pelotas
em agosto de 1895.
Dois
dias após ser enterrado, Gumercindo Saraiva teve sua sepultura
violada por soldados inimigos que o decapitaram, colocaram a cabeça
do militar numa caixa de sapatos e a levaram até Porto Alegre para
ser entregue ao governador Júlio de Castilhos.
A
Revolução Federalista terminou em 1895 e deixou pelo menos dez mil
mortos, tanto Maragatos como Pica-paus. A maioria, vítima de degola.
Esse horrendo recurso era utilizado desde o início da guerra, primeiro pelos federalistas e depois também pelos pica-paus. Era uma forma de economizar munição e causar mais pavor ao inimigo. Por isso esse conflito é também chamado de Revolta da Degola.
Com as mãos às costas, o prisioneiro era forçado a ajoelhar, tendo o pescoço cortado de orelha a orelha. Muitas vezes isso era feito em meio a zombarias e humilhações.
Com bem mais bandidos que mocinhos dos dois lados, a Revolução Federalista deu mostras da barbárie que reinava no sul do Brasil no início da República.
Revolução
Federalista cantada
Colorada
Ouça no Spotify
Composição:
Apparicio Silva Rillo e Mário Barbará, LP
20ª Califórnia da Canção Nativa (1990)
(Olha
a faca de bom corte, olha o medo na garganta
O
talho certo e a morte no sangue que se levanta
Onde
havia um lenço branco brota um rubro de sol por
Se
o lenço era colorado o novo é da mesma cor)
Quem
mata chamam bandido quem morre chamam herói
O
fio que dói em quem morre
Na
mão que abate não dói
Na
mão que abate não dói
Era
no tempo das revoluções
Das
guerras braba, de irmão contra irmão
Dos
lenço branco contra os lenço colorado
Dos
mercenário contratado a patacão
Era
no tempo que os morto votavam
E
governavam os vivos até nas eleição
Era
no tempo dos combate a ferro branco
Que
fuzil tinha muy pouco e era escassa a munição
Era
no tempo do inimigo não se poupa
Prisioneiro
era defunto e se não fosse era exceção
Botavam
nele a gravata colorada
Que
era o nome da degola nestes tempos de leão
Don
Gomercindo Saraiva Ouça no Spotify
Composição:
José João Sampaio Da Silva e Noel Guarany, CD Iluminado e eclético 27 anos de arte (2007)
Gaucho-centauro
de pua
Medalha
de pátria guaxa
Na
legenda da bombacha
Há
reflexos de lua
Velha
encarnação xirua
Cintilando
ao sol dos anos
Bronze
agreste dos pampeanos
Redemunhando
só confins
Entre
o sopro dos clarins
De
los pueblos soberanos.
Alma-hombre-continente
Viejo
caudilho paysano
Mescla
de pampa e minuano
Brasões
de raça imponente
Tal
qual crioula vertente
De
alçadas concepções
Donde
vieram aos borbotões
Velhos
tigres de fronteiras
Ajoelhando
a alma inteira
No
altar das tradições.
Dom
Saraiva el gaucho errante
Del
panuelo colorao
Que
tranqueando en su tostao
Levaste
el pátria adelante
Com
la imagem cintilante
De
caudillo americano
Que
el viejo pago orejano
Saludo
en la montonera
La
liberdaded y la bandera
Del
gaucho y nuestros hermanos.
E
se foi pra eternidade
Num
flete bueno e pachola
Laço
velho a bate-cola
De
rédea solta a vontade
É
um pendão de liberdade
Mais
puro do que vertente
Entrou
na história de frente
De
chapéu meio tapeado
E
um por de sol colorado
Sangrando
a alma da gente.
Mas
ficaram ressonâncias
Luzindo
sobre a planura
Fundamentando
cultura
Enchendo
vazios... Distâncias
E
no templo da estâncias
Entre
umbus e cinamomos
Preces
nativas dispomos
Na
catedral do galpão
No
clarim d'um redomão
Proutros
rincões nos transpomos.
Essa
legenda guerreira
Baguala
e continental
Saiu
da banda oriental
Sem
convenções de fronteira
E
foi cruzando altaneira
Com
pátria dentro de si
Por
Bagé e Itaqui
Arrematando
na Lapa
Para
luzir esta luz guapa
No
capão do caruvi.
Revolução
Federalista no cinema
O
Sobrado (1956), de Walter George Durst e Cassiano Gabus Mendes; Assista
O
Preço da Paz ( 2003), de Paulo Morelli; Assista
A
cabeça de Gumercindo Saraiva (2018), de Tabajara Ruas; Assista
Sugestões de leitura:
A
cabeça de Gumercindo Saraiva, de Tabajara Ruas e Elmar Bones.
Editora Record;
Apontamentos
históricos de União da Vitória 1768 – 1933, de Cleto da Silva.
Curitiba, Imprensa Oficial, 2006;
Apontamentos históricos de Palmas e Clevelândia (1630-1930), de Cleto da Silva. In: Boletim Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. Curitiba: Ihgepr, 1976;
E
a revolução esbarrou no Paraná disponível em
ttp://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/e-a-revolucao-esbarrou-no-parana-cfsv1lbyo940lvlngw7uwbh3i
acesso em 10/08/2017
História
do município de General Carneiro, de Joaquim Osório Ribas. General
Carneiro, Kayngangue, 2008;
Maria
Bueno: Santa de casa, de Sandra Jaqueline Stoll, Conceição dos
Santos, Geslline Giovana Braga e Vanessa Durando. Curitiba, 2011;
Revolução Federalista, de Luiz César Kreps da Silva. In: Paraná: espaço e memória. Diversos olhares histórico-geográficos. Curitiba: Bagozzi, 2205;
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Grupo Maragato com Gumercindo Saraiva (o barbudo sentado ao centro) https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Federalista#/media/Ficheiro:Gumercindo_tropa.jpg | | | | |
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Praça General Carneiro (Lapa - PR) https://www.lapaturismo.com.br/copia-hotel-vovo-nana-1
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Marco no Km 65 da Estrada de Ferro Curitiba - Paranaguá, local do assassinato do Barão do Serro Azul. https://amantesdaferrovia.com.br/blog/a-ultima-viagem-do-barao-do-serro-azul
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Panteon dos Herois (Lapa - PR), abriga os restos mortais do General Carneiro e de outros combatentes do Cerco da Lapa. https://www.lapaturismo.com.br/copia-museu-historico |
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Degola de um inimigo durante a Revolução federalista. https://www12.senado.leg.br/noticias/videos/2015/07/guerra-da-degola-resistencia-no-sul-a-proclamacao-da-republica-e-tema-do-arquivo-s
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